
Nos anos 60, existia nos Estados Unidos um compêndio intitulado Musician Union Directories, uma espécie de “páginas amarelas”, onde o fabricante, distribuidor, lojista e músico podiam encontrar todas as empresas ligadas ao ramo musical do país. De acordo com Forrest White, executivo da Fender entre 1954 e 1967, as publicações começaram a apresentar, em sua contracapa, algumas empresas que estavam se destacando em determinados setores ligado ao ramo musical.
Para surpresas de todos, inclusive do próprio inventor, o nome Fender Bass estava lá. Isto foi


Datar a quantidade exata nos primórdios da lendária fábrica provou, pelas dificuldades encontradas durante sua pesquisa, que aquilo não era uma ciência exata, principalmente por não haver tecnologia disponível na época, como por exemplo, computadores. Durante os primeiros anos de produção, houve saltos vertiginosos de números de unidades comercializadas.
Os pedidos vindos de todas as partes do país se multiplicavam a cada dia. Os historiadores acreditam que, em virtude dessa atividade frenética, todo mundo perdeu-se nos números. Mal eles imaginavam que tais dados seriam revisados por historiadores profissionais e amadores, ávidos por qualquer informação que pudessem ser úteis na busca das origens e evolução dos instrumentos da Fender.
De acordo com James Werner, um dos mais renomados pesquisadores e

O pesquisador encontrou muitos modelos que, apesar de serem consideramos como originais após uma criteriosa análise, tiveram seu número de série apagado pelo tempo, tornando impossível uma identificação precisa. Para que vocês tenham uma idéia, a datação oficial do primeiro P Bass recebeu o número de série 0118, constatado em setembro de ano de 1952.
O que você, leitor, deve estar imaginando e os historiadores ainda se debatendo é: cadê os 117 modelos anteriores? Em um ponto todos concordam: Leo, visando divulgar seu instrumento, promoveu uma verdadeira distribuição de várias unidades para diversos músicos de diferentes estilos musicais, já que Fender queria que seu instrumento fosse usado por toda a comunidade musical - apesar, conforme vimos, de que suas primeiras tentativas foram direcionadas ao universo country.

Os pesquisadores contam ainda que muitos pedaços de P Bass foram encontrados em latas de lixo perto de bares, estúdios e casas de show em várias localidades nos Estados Unidos.
O que teria acontecido? Brigas em decorrência da ingestão de álcool, aposta em jogos e insatisfação devem ter sido os principais motivos. Tudo isto, de qualquer modo, foi apagado pelo tempo. Uma perda sem tamanho para a história...
Legenda das fotos:
Figura 1 - A primeira ponte do Precision Bass era dividida em dois suportes (um para cada grupo de cordas). Feito em phenolic. As cordas eram inseridas pela parte traseira do corpo. Este tipo de ponte equipou o instrumento até 1957, quando foi substituída por outro modelo, mais avançados fabricado em metal, com um suporte para cada corda.
Figura 2 - Uma visão traseira dos orifícios nos quais eram inseridas as cordas. “Pensamos em

O problema é que este tipo de ponte não fornecia um ajuste preciso das notas no braço. Historiadores e técnicos concordam que este tipo de sistema deveria ter sido substituído muito antes, em virtude de diversas reclamações de músicos que alegavam que as algumas notas do Fender P Bass soavam semitonadas.
Figura 3 - Visão frontal do P Bass original, construído em 1951. Com o corpo feito em ash e o braço em maple, o novo modelo representou um imenso salto em termos de evolução técnica, sonora e ergonômica. No entanto, muitos modelos tinham sérios problemas de entonação no braço, principalmente a partir do final de 1952, motivado por um sistema de afinação mal construído e por uma falta de controle de qualidade por parte da empresa.
Figura 4 - Em 1953, a nova Stratocaster estava pronta para ser lançada, tendo como novidade um novo recorte na parte dianteira do corpo, propiciando uma melhoria na ergonomia. No início de 1954, ocorreu a primeira mudança dramática no P Bass.

Figura 5 - O modelo de 1954, em foto ilustrativa obtida de um catálogo de vendas na época. Além do recorte do corpo, havia duas novidades: um novo escudo da cor branca, feito em um novo material plástico, mais resistente e com melhor acabamento (o original era fabricado em fibra vulcanizada) e a inclusão de duas cores (sunburst), dando um novo visual ao instrumento.
Figura 6 - Para acompanhar o novo design do P Bass, o lendário Bassman teve um up grade em 1955, com o aumento do tamanho do gabinete para acoplar um falante de 15 polegadas.
Figura 7 - Novas mudanças estruturais ocorreram nos modelos fabricados

O headstock finalmente ganhou seu formato definitivo. O pick guard ganhou um novo design, onde os knobs passam a ser acoplados à peça. Note ainda que o modelo da foto não possuía as placas metálicas dos captadores e da ponte.
Figura 8 - Um raro Fender 1963 completo! Até as placas metálicas estão lá! A mudança ocorreu na inclusão de uma escala, feito em rosewood, finalmente separando a madeira do braço. No final dos anos 50, novas cores foram introduzidas no mercado, com base em pinturas feitas em automóveis da época.
A cor deste modelo é conhecida como “azul plácido”, uma cor na moda - principalmente em carros esportivos - na época. Esse modelo foi considerado uma das matrizes para os Precision atuais.
A Concorrência

“Ora, não deve ser difícil fabricar um desses!”. De acordo com os registros históricos, essa foi das primeiras frases pronunciadas por muitos empresários que examinavam minuciosamente o modelo do primeiro baixo elétrico da história, empreendedores que estavam firmemente dispostos a entrar em um mercado até agora única e exclusivamente dominada pelo Precision Bass.
Vamos interromper um pouco a nossa narrativa. Seria conveniente, neste ponto da história, fazer uma pequena reflexão sobre alguns detalhes que aprendemos até agora, que nos ajude a entender o que se seguiu. Até agora, conhecemos onde tudo começou - a grande batalha travada por Leo Fender e seus seguidores, da sua pequena empresa de concertos de aparelhos de rádio até a presente data da história, 1953. Muita coisa aconteceu. Algumas boas e outras ruins.
Vamos começar pelas boas. Finalmente, o mundo conheceu nosso amado instrumento. Apesar da desconfiança inicial, o P Bass decolou e se tornou um sucesso absoluto de vendas durante o ano de 1952. Por outro lado - e deixando o romantismo de lado - era inegável que Leo Fender, um visionário genial e obstinado, era, antes de tudo, um técnico em rádio, obcecado pela amplitude do sinal, de onde quer que ele viesse, fosse de um violão elétrico, da primeira guitarra (a Telecaster) ou de um simples aparelho de rádio.
Ou seja, nosso inventor não era propriamente um músico ou luthier especializado que pudesse identificar os graves problemas de construção presentes no P Bass em seus primórdios. Na verdade, ninguém imaginou que a invenção do baixo elétrico se transformaria em um dos divisores da história da música. Vimos também como foram importantes os primeiros bandleaders - como Lionel Hampton -, que levaram o status do instrumento a item obrigatório em suas orquestras, apesar dos inúmeros protestos de diversos músicos apegados a suas tradições. Seriam estes indivíduos contra tudo que seria, a princípio, inovador, velhas múmias paradas no tempo?
A resposta é: não! É fácil para nós, que não vivemos aqueles tempos, examinar com absoluta

O problema era específico: o primeiro sistema de pontes que Leo Fender utilizou trazia duas peças de suporte para cada grupo de duas cordas e provocava sérios problemas de entonação no braço. Muitos dos críticos que condenavam o novo instrumento insistiam neste ponto e com razão. Na equipe de Leo existiam muitos jovens empregados que resolveram verificar com maior apuro os motivos destas reclamações por parte dos músicos e dos críticos.

Um mercado potencial estava surgindo, sedento por novidades, que tinha na Fender Radio & Television Equipment o único fabricante de uma nova idéia. Com isto surgiu o primeiro grande inimigo: a concorrência. O primeiro instrumentos que os registros apontam foi o Kay, criado na primeira metade de 1953 por um consórcio de luthiers que construíam baixos acústicos.
Tratava-se de um projeto-conceito, baseado em um obscuro instrumento (que infelizmente se perdeu na história) usado pelo baixista da banda de Woody Herman, Chubby Jackson, no final dos anos 40. Ele se parecia com os modernos baixos acústicos usados até hoje, mas a vantagem era o preço. Enquanto que um P Bass custava US$ 199,00, o Kay tinha seu preço fixado em US$ 140. O projeto não se desenvolveu devido à dificuldade de tocabilidade e por falhas na construção dos sistemas de captadores, que provocaria ruídos estáticos junto aos sistemas de amplificação, segundo relato a historiadores do instrumento.
A Gibson, então apenas uma construtora de violões e outros instrumentos de corda, apresentou ao mundo dos graves seu primeiro modelo: o EB-1 (Figura 2), com um revolucionário corpo em mogno (e não oco, como muitos pensavam) que lembrava o violino. Nos instrumentos acústicos, existem duas aberturas no tampo frontal chamado F holes com a finalidade de expandir as ondas sonoras.
O EB-1 possuía os mesmos orifícios só que simulados. A novidade atraiu um nível relativo de vendas, apesar de críticos e músicos afirmarem que a empresa levou em consideração apenas o aspecto visual, ignorando totalmente a ergonomia. Em resposta a estas criticas, a empresa lançou em 58 o modelo EB-2, cujo corpo se assimilava à guitarra ES-335.
Por sua vez, a Hofner, outra tradicional empresa de instrumentos acústicos, estabelecida na Alemanha a partir de 1880, entrou no mercado com um novo instrumento, que se assemelhava muito com o modelo fabricado pela Gibson. Tratava-se do Hofner 500/1 (Figura 3), criado em 1956 e chamado de violin bass.
Todos estes modelos, a princípio, não representavam ainda uma ameaça direta ao poderoso P Bass. No entanto, algo inesperado surgiu no horizonte e que realmente chamou a atenção de todos: a Rickenbacker.
Roger Rossmeisl, um luthier alemão aceitou a oferta da empresa para trabalhar no sul da Califórnia, com a responsabilidade de desenvolver o primeiro contrabaixo elétrico da companhia. O corpo foi inspirado nos guitarristas de jazz alemães, a escala do baixo era alguns milímetros maiores que o Precision e trazia uma característica que contribuiu para a uma confortabilidade no quesito execução de notas na região mais aguda da escala: a escala se iniciava no final do braço, fazendo com que as notas localizadas a partir do décimo segundo traste pudessem ser facilmente executadas.

No final daquele ano, outra novidade surgiu: o Danelectro UB2, construído pelas mãos do luthier Nathan Daniel, cujo projeto havia sido iniciado dois anos antes. Era um instrumento que já possuía uma boa ergonomia, em virtude do seu design, e a principal novidade: seis cordas! Possuía uma afinação semelhante à guitarra, só que uma oitava abaixo. O instrumento foi um relativo sucesso de vendas, sendo usado para gravações nas primeiras bandas de rock n’ roll. O Danelectro tinha como característica sonora um som abafado e percussivo, que originou seu apelido de “Tic-Tac”.
A entrada da lendária Rickenbacker serviu para demonstrar que outras empresas poderiam competir com a Fender. O 4001 (Figura 4), lançado um ano depois, iniciou uma nova escalada de boas vendas, o que fez que, pela primeira vez, os executivos da Fender se reunissem para questionar o que poderia ser melhorado no velho e bom Precision Bass.
A resposta veio no ano de 1958, com algo que iria revolucionar o mundo dos graves, considerado por muitos historiadores como mais uma estratégia de marketing do que propriamente uma nova revolução. Mas isto você saberá no próximo capítulo.