
Onde tudo começou...
A ciência que estuda a origem e a evolução dos instrumentos musicais é a organologia. Já a que se dedica à escrita é a organografia. Por meio delas, foi possível reconstruir a história dos diversos instrumentos musicais com maior destaque para a família dos sopros, percussão e metais. Isto porque eles possuem registros históricos mais precisos. No entanto, os instrumentos de cordas, como o violino e o violoncelo, carecem de maiores informações.
Um ponto de comum acordo entre os historiadores é o de que os luthiers guardavam, a sete chaves, todo o processo de criação deles. Muitos, aliás, nunca tomaram nota do tipo de madeira ou verniz que utilizavam nessas construções, pois era o desejo deles que tais conhecimentos jamais fossem divulgado.
Então, inúmeros segredos da confecção de verdadeiras obras de arte foram para o túmulo com esses artesãos. Nesse contexto, enquadram-se principalmente aqueles instrumentos produzidos com a função de emitir notas mais graves.
Os registros mais rudimentares datam do século XIII, na segunda metade da Idade Média, aproximadamente no ano de 1200. Os primeiros exemplares conhecidos, que apontam o nascimento do moderno contrabaixo, encontram-se vinculados à família das violas, na qual foram divididos em dois grupos: as de braço e as de perna.
Naquela época, o nome gige era usado para denominar tanto a rabeca, instrumento de origem árabe, com formato parecido com o alaúde, quanto à guitar-fiddle, espécie de violão com formato parecido com o violino. De acordo com sua sonoridade, eram classificados em grande ou pequeno.
Os primeiros contrabaixos
Os registros organográficos informam que a música executada nessa época era muito simples. Em muitos materiais escritos, para se ter uma idéia, as partes se limitavam em apenas duas ou três. Em virtude desta restrição, o número de notas que era utilizado era relativamente pequeno, o que ocasionava um registro de notas disponíveis bastante reduzido.
Por volta do século XV, as partes que constituíam a música naquele período aumentaram para quatro vozes. Mais ou menos em 1450, passou-se a usar o registro de baixo, que foi considerado uma verdadeira inovação para a época. A falta deles era muito reclamada pelos compositores, pois muito achavam que sua música soava com timbres médios ou agudos, necessitando, portanto, de registros mais graves. Surgiu então a necessidade da invenção de instrumentos na qual pudessem atingir esta tessitura.
A primeira solução foi construir instrumentos maiores, baseados na estrutura dos utilizados normalmente, tomando o cuidado de não efetuar mudanças estruturais que viessem a prejudicar a obtenção dos novos graves.
Um dos principais celeiros do mundo na construção destes primeiros instrumentos foi a Itália. Naquele país, as violas tinham três tamanhos: a de gamba aguda, a tenor e a baixa. Nesse período, surgiu o violone, que pode ser considerado como o parente mais próximo do moderno contrabaixo acústico utilizado nas orquestras.
No início do século XVII, o violone tornou-se o nome que designava o maior de todos: a viola contrabaixo. Somente após a segunda metade do século XVIII isso se modificou. Foi quando o contrabaixo separou-se do violone. Já no final do século XVIII, o contrabaixo adquiriu sua forma definitiva, passando a integrar ao longo dos anos as mais diferentes formações musicais como orquestras, big bands e jazz.
O domínio do gigante como única emissão de sons graves perdurou até a segunda metade dos anos 50. A partir daí, tudo mudaria com a invenção do primeiro contrabaixo elétrico da história realizada por um humilde técnico de rádio chamado Clarence Leo Fender.

Na primeira metade do distante ano de 1948, após muitos experimentos em violões amplificados com toscos artefatos para amplificação do sinal, um humilde técnico em eletrônica conseguiu, a partir da construção de um corpo sólido de guitarra, conceber o primeiro captador funcional da história, resultando na primeira guitarra elétrica: a lendária Telecaster. Seu nome: Clarence Leo Fender.
Os primeiros primórdios de uma indústria que iria revolucionar os rumos da música em nosso mundo já eram visíveis na pequena oficina do genial inventor, onde foi preparado um setor somente para a construção das primeiras guitarras elétricas que levavam o seu nome.
Assim como todos nós, Fender também adorava música, principalmente o country. Portanto, sempre que podia, ele freqüentava os estabelecimentos da época onde a country music era executada por diversos grupos. Em um dia inspirado, ele passou a observar que o grande contrabaixo acústico, usado por todos os músicos na época nas formações musicais quase não era audível em virtude de suas características estruturais, além de apresentar um grande incômodo com relação ao transporte, em virtude do seu tamanho.
O lendário gigante era um maravilhoso invento da alma humana, porém para ser executado em ambiências especiais (como em salas de concertos tratadas acusticamente) além do fato que ele foi concebido para ser executado, a princípio, com o arco, o que aumentava consideravelmente sua amplitude sonora, todavia não sendo usual nas formações musicais existentes na época.
Com este conceito em sua mente, o inquieto inventor, em outubro de 1951, voltou a inovar, a exemplo da concepção da guitarra elétrica, na criação do primeiro contrabaixo elétrico na história dos graves, usado pela primeira vez na banda de Bob Guildemann, batizado com o nome de Fender Precision Bass.
Por que este nome? Ao contrário do gigante, este instrumento possuía trastes, o que facilitava a

Outro problema enfrentado foi que não existiam cordas próprias para este novo instrumento. “Tivemos que cortar as cordas do contrabaixo acústico e adaptá-las ao nosso novo projeto. Além disto, meu principal objetivo foi aumentar a intensidade do sinal sonoro e facilitar o transporte do músico em comparação ao acústico. O primeiro protótipo foi construído no final dos anos 50 e diversos músicos quiseram testá-lo.
O curioso é que os primeiros contrabaixistas eram na verdade guitarristas, que não possuíam a menor idéia de como executar o novo instrumento. Não se esqueçam da época na qual estávamos. Muitos contrabaixistas acústicos solenemente desprezavam a nova invenção de Leo Fender por simples preconceito. A afinação era igual a usada no gigante: G,D,A e E contadas de baixo para cima.
Ainda hoje nos assustamos com as constantes revoluções tecnológicas na qual o mundo vem passando. As invenções da guitarra e do contrabaixo elétrico iriam modificar profundamente a forma como ouvimos, aprendemos e compreendemos a música nos próximos anos. Mas isto é um assunto para o próximo capítulo.
Por Nilton Wood